1.11.09

Retratos



Bronzino "Portrait of a Man Holding a Statuette" Louvre, Paris

Os artistas plásticos, quando descobrem alguma figura que lhes capta a atenção, retratam-na mal chegam a casa, seja com o que for. Gravam para sempre o seu olhar, a posição das mãos, a tez da sua pele.
Aos escritores, que lhes resta? Que consolo lhes sobra? Ao seu lado umas poucas palavras, que fazer com elas perante a imensidade de um olhar, um toque de veludo, um peculiar modo de caminhar? Pobres filhos menores do génio reprodutivo, pegam nelas e supõe toda uma vida ao dono da figura, desmembrando-o e caluniando-o, amargamente se vingando assim de mais não poderem preservar daquele instante que suposições.
Fitando um quadro, roem-se de inveja por serem incapazes de o pintar, apressam-se chegar a casa para, durante horas a fio, darem um nome e uma vida àquele ser que tanto os cativou.

2 comentários:

  1. O Mia Couto tem uma das expressões que mais me marcou sobre a escrita:
    "Não me posso deixar tomar pela escrita ela dava cabo de mim."
    É verdade, escrever é um acto muito doloroso e extremamente difícil.
    Mas é mais que imagens ou gestos. Mais que realidades cristalizadas em palavras.
    Escrever é desafia-se a chegar mais longe, a ir à praia escavar a areia e por debaixo da areia, e depois mais areia, acabando numa areia sem fim.
    Assim, escrever é uma actividade condenada ao fracasso, porque falta sempre mais algo.

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  2. Contra essa descrição do acto de escrever, palavra após palavra, tudo o que me vinha à cabeça era uma citação do Beckett: "ser um artista é falhar como mais ninguém se atreve a falhar. tentar outra vez, falhar melhor."

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