19.10.09

A feroz punhalada do realismo

Tal como matéria atrai matéria, por forças invisíveis, de ferocidade impar, a vida atrai-nos para a dura realidade.
Um corpo cai pelas forças gravíticas que nele actuam, assim o é quando estamos prostrados no mundo dos sonhos e caímos na realidade que nos rodeia. Realidade essa que continua a ser um sonho.
Andamos sempre a deambular pelo eterno sonho da vida, tropeçando.
Torno-me pedra para não pensar na vida que me rodeia, torno-me inanimado, mas nem isso faz com que deixe de ver o mundo exterior. É no silêncio da minha existência que melhor compreendo que estar só é ser se o melhor espectador da desgraça que nos rodeia. Nem na solidão somos donos da nossa própria vida, porque não somos sós, não somos un(ic)os. A entropia de dois atómos “sozinhos” é maior, do que quando estes estão ligados. A entropia é a desordem. É fácil compreender o porquê da solidão ser a nossa primeira inimiga.
A fuga à realidade é o social. É o lubrificar da mente com momentos plásticos retirados e recortados a partir de verdadeiras imagens que doem. O que é arte senão a tentativa de por belo o feio?
Tropeço mais uma vez na dura realidade. Porque os sonhos só nos iludem por escassos momentos, fugacidade da vida que por si só já é efémera.
Eu sonhei poder mudar. Poder mudar algo, alguém, ou a mim mesmo. Mas como sempre, tropecei. Mais um sonho para poder juntar ao conjunto de elementos infinitos cujo sistema de equações é impossível.

Sonho, caio.

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